20/01/2015
O cheiro
Eu estava cansado após longos trinta minutos dirigindo atrás daquele caminhão de galinhas. Nenhum ponto de ultrapassagem, engarrafamento pesado numa estrada nada amigável do interior da província de São Pedro e aquele cheiro de merda terrível. Quem nasce no interior aprende desde cedo a distinguir a espécie do bicho pelo cheiro da merda. E, bem, eu estava com pressa. Têm dias que a gente só quer chegar logo. Decidi assumir o risco e forçar a barra para ultrapassar e assim foi. Já livre do cheiro pensei na rotina do motorista, o dia a dia daquilo tudo e como poderia ser a relação dele com aquele fedor permanente. Se ainda incomodava ou se ele poderia ter passado por algum tipo de processo físico de adaptação pra andar assim tão resignado. Quando ultrapassei o caminhão, sorrindo como se me cumprimentasse, o motorista buzinou duas vezes. De boné azul, parecia um poeta.