20/01/2015
O cheiro
Eu estava cansado após longos trinta minutos dirigindo atrás daquele caminhão de galinhas. Nenhum ponto de ultrapassagem, engarrafamento pesado numa estrada nada amigável do interior da província de São Pedro e aquele cheiro de merda terrível. Quem nasce no interior aprende desde cedo a distinguir a espécie do bicho pelo cheiro da merda. E, bem, eu estava com pressa. Têm dias que a gente só quer chegar logo. Decidi assumir o risco e forçar a barra para ultrapassar e assim foi. Já livre do cheiro pensei na rotina do motorista, o dia a dia daquilo tudo e como poderia ser a relação dele com aquele fedor permanente. Se ainda incomodava ou se ele poderia ter passado por algum tipo de processo físico de adaptação pra andar assim tão resignado. Quando ultrapassei o caminhão, sorrindo como se me cumprimentasse, o motorista buzinou duas vezes. De boné azul, parecia um poeta.
13/01/2015
solidarité
a Nigéria chora e
presumo que também o Haiti
ao menos é o que diz
- de quando em quando -
ao menos é o que diz
- de quando em quando -
a televisão daqui.
A bomba e o horror
o afã dos jornalistas
das redes sociais
no México e no Brasil
- touchant!
- touchant!
já sobre a Namíbia,
eu nada sei, mas
deve haver comoção por lá
deve haver comoção por lá
por que todo mundo se mobiliza rápido
quando o atentado é europeu:
o atrasado
sou eu.
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