Eu estava cansado após longos trinta minutos dirigindo atrás daquele caminhão de galinhas. Nenhum ponto de ultrapassagem, engarrafamento pesado numa estrada nada amigável do interior da província de São Pedro e aquele cheiro de merda terrível. Quem nasce no interior aprende desde cedo a distinguir a espécie do bicho pelo cheiro da merda. E, bem, eu estava com pressa. Têm dias que a gente só quer chegar logo. Decidi assumir o risco e forçar a barra para ultrapassar e assim foi. Já livre do cheiro pensei na rotina do motorista, o dia a dia daquilo tudo e como poderia ser a relação dele com aquele fedor permanente. Se ainda incomodava ou se ele poderia ter passado por algum tipo de processo físico de adaptação pra andar assim tão resignado. Quando ultrapassei o caminhão, sorrindo como se me cumprimentasse, o motorista buzinou duas vezes. De boné azul, parecia um poeta.